Com Biden em Israel e Putin na China, novas divisões globais ficam evidentes; leia a análise

 

Benjamin Netanyahu e Joe Biden – Foto: Brendan Smialowski / AFP

Enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, visita Israel nesta quarta-feira, buscando reforçar o eterno apoio americano ao país em meio à uma crise que se intensifica após uma explosão letal em um hospital na Faixa de Gaza, o presidente Vladimir Putin, da Rússia, está em Pequim, reunido com Xi Jinping, o principal líder da China, buscando demonstrar sua parceria “sem limites”.

As duas viagens mostram como o cenário político global foi amplamente redesenhado pela invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia, e como esse cenário alterado está em plena exibição na guerra entre Israel e o Hamas, o grupo terrorista que controla Gaza.

A Rússia, a China e o Irã já estavam formando um novo eixo em relação à Ucrânia, um eixo que eles têm buscado reforçar diplomática, econômica, estratégica e até ideologicamente. A Rússia depende de armas do Irã e do apoio diplomático da China para lutar na Ucrânia.

O Irã foi isolado pelos EUA, mas ficou muito feliz em ter novos parceiros comerciais e alguma fonte de legitimidade internacional. A China, cuja economia está em dificuldades, poupou bilhões de dólares ao importar quantidades recordes de petróleo de países sob sanções ocidentais, como a Rússia e o Irã.

Juntos, eles encontraram uma causa ideológica comum ao denunciar e desafiar os Estados Unidos em nome da reforma da ordem internacional existente, dominada pelo Ocidente desde a 2ª Guerra Mundial.

Ao fazer isso, eles não escondem as queixas que têm sobre a maneira como as coisas eram feitas no passado. No entanto, cada lado vê hipocrisia no outro, forçando cada vez mais todas as nações a escolherem um lado.

A guerra entre Israel e Hamas ressaltou as diferenças cada vez maiores entre o Ocidente, de um lado, e a Rússia e a China, de outro. Essas diferenças não se referem apenas a quem é o culpado pela escalada da violência. Elas também dizem respeito a visões concorrentes das regras que sustentam as relações globais – e quem pode defini-las.

“Esse é outro conflito que impulsiona a polarização entre as democracias ocidentais e o campo autoritário da Rússia, China e Irã”, disse Ulrich Speck, um analista alemão. “Este é outro momento de esclarecimento geopolítico, como a Ucrânia, em que os países precisam se posicionar.”

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping  – Foto: Sputnik/Ramil Sitdikov/Kremlin via REUTERS

A Rússia, com o apoio da China, retratou sua invasão da Ucrânia como uma defesa contra a subversão ocidental da esfera tradicional de dominação cultural e política de Moscou. Os Estados Unidos e a Ucrânia retrataram a guerra da Rússia como um esforço agressivo de recolonização que viola as normas internacionais e a soberania.

No que diz respeito ao Oriente Médio, talvez não exista nenhuma região em que a natureza de “através do espelho” dessas visões concorrentes seja mais aparente.

A Rússia e a China se recusaram a condenar o Hamas. Em vez disso, criticaram o tratamento israelense aos palestinos, especialmente sua decisão de cortar o fornecimento de água e eletricidade a Gaza e o número de mortes de civis no local. Eles pediram uma mediação internacional e um cessar-fogo antes que Israel considere que sua guerra tenha começado completamente.

Após o horror da noite de terça-feira, quando centenas de palestinos morreram em um hospital após uma explosão quando buscavam abrigo, espera-se que a Rússia e a China intensifiquem seus pedidos de uma resolução da ONU e de um cessar-fogo imediato. De acordo com a RIA Novosti, uma agência de notícias estatal russa, o ministro das relações exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, chamou a explosão de “crime” e “ato de desumanização” e disse que Israel teria que fornecer imagens de satélite para provar que não estava por trás do ataque.

Apesar de os israelenses negarem a responsabilidade pela explosão, as reações violentas entre os palestinos e árabes comuns tornaram a viagem de Biden consideravelmente mais difícil.

Os planos de Biden de se reunir com líderes israelenses e árabes, incluindo Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, foram frustrados, e será mais difícil para ele agir como um mediador confiável. Haverá mais pressão sobre Biden para persuadir Israel a permitir a entrada de ajuda humanitária, incluindo água e eletricidade, em Gaza. As autoridades israelenses sugerem que ele também tentará impedir que o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, reaja de forma exagerada, de modo a prejudicar os interesses regionais mais amplos dos Estados Unidos e de Israel.

Estadão Conteúdo

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