Benedito Gonçalves, relator da condenação de Bolsonaro, se despede do TSE

 

Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

O ministro Benedito Gonçalves despediu-se, ontem, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em discurso de encerramento de um ciclo de dois anos, ele destacou a atuação que teve em defesa da democracia e lembrou de relatorias importantes, como, por exemplo, o processo que tornou Jair Bolsonaro e o general da reserva Walter Braga Netto inelegíveis por oito anos, além de outras ações relacionadas à corrida presidencial do ano passado.

“Aqui aprendi que a democracia é frágil e deve ser constantemente cultivada e protegida. E, no TSE, tive a responsabilidade de zelar por esse alicerce, que é a democracia”, destacou o ministro, aplaudido pela plateia.

Segundo ele, o TSE “traçou uma linha” sobre os limites existentes para os candidatos a cargos eletivos. “Na ação sobre o 7 de Setembro, o TSE demarcou que não há escusas para que candidatos desviem as duas prerrogativas de presidente da República em cunho de objetivos eleitoreiros”, ressaltou.

O magistrado também foi responsável por posicionamentos duros em relação a Bolsonaro durante todo o processo eleitoral. Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008, Benedito é juiz de carreira, tem um perfil considerado discreto e é o único negro entre os 33 integrantes do STJ.

Nos bastidores do TSE e das cortes superiores, Gonçalves deixa um legado de dedicação, rigor técnico e celeridade. O ministro dispensou empenho desde a fase de instrução dos processos contra Bolsonaro até a organização do relatório. Resolveu antecipadamente controvérsias sobre questões preliminares que poderiam comprometer as ações e juntou os processos que tratavam do mesmo tema.

Com a saída de Gonçalves, caberá ao ministro Raul Araújo assumir a Corregedoria da Corte. Ambos são egressos do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, por tradição, ficam apenas um biênio no TSE como titulares. Os processos restantes contra Bolsonaro passarão a ser conduzidos pelo novo corregedor.

A mudança na relatoria pode imprimir novo ritmo aos julgamentos do ex-presidente. Na reta final do mandato, Gonçalves buscou pautar as ações mais adiantadas — em quatro meses, o TSE julgou sete processos contra Bolsonaro. Restam ainda 10 ações que atingem o ex-presidente e a seus aliados.

Até o momento, Araújo votou para absolver Bolsonaro em todos os julgamentos. A taxa de fidelidade foi maior até mesmo do que a do ministro Kassio Nunes Marques, indicado pelo ex-presidente, que no último julgamento — sobre o uso do 7 de Setembro para fazer campanha — defendeu multa ao ex-presidente e a Braga Netto.

Informações Correio Braziliense

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